sexta-feira, 23 de março de 2018
Brasil resolvendo
Estudantes do
ensino médio desenvolvem método para purificar água no semi-árido
Um grupo de
estudantes de Campinas, no interior paulista, desenvolveu um método de baixo
custo para tratar água de cisternas no semi-árido brasileiro. O sistema,
desenvolvido por três alunos da Escola Técnica Estadual (Etec) Bento Quirino,
produz cloro a partir da eletrólise – processo químico feito com eletricidade –
de uma solução de água com sal. O protótipo prevê ainda o uso de energia solar
para o processo, contemplando comunidades que não só dependem da água da chuva,
mas que também não tem acesso ao fornecimento de eletricidade.
A
ideia foi premiada, no ano passado, pelo Prêmio Jovem da Água de Estocolmo,
levando Beatriz Ruscetto da Silva, Matheus Henrique Cezar da Silva e Gabriel
Gertrudes Trindade para conhecer a capital da Suécia. Lá, eles tiveram a
oportunidade de conhecer projetos semelhantes de todo o mundo, além de ouvir
opiniões qualificadas sobre a própria proposta. “Foi surreal, até hoje parece
que foi só um sonho. Nenhum de nós três já tinha viajado de avião e nessa
viagem ficamos mais de 10 horas no avião. O pessoal da organização do prêmio
nos tratou muito bem, com muito amor e até hoje somos amigos desse pessoal”,
lembra Beatriz sobre a experiência.
Durante
a viagem, o grupo teve a oportunidade de conhecer projetos de outros países e
se impressionou com o que foi desenvolvido pelos norte-americanos Ryan Thorpe e
Rachel Chang. O sistema elaborado pelos estudantes identifica na água as
bactérias sighella, da cólera e da salmonela, mais rápido do que os
métodos convencionais e também permite a eliminação imediata dos
micro-organismos.
Foi o
contato com outro projeto, de um colega de classe, que deu início ao
desenvolvimento do STAC-IBR, que ganhou o prêmio sueco. “A ideia nasceu graças
ao projeto do nosso amigo Lucas Gabriel: ele fazia eletrólise mas descartava o
gás cloro. Pensamos logo em como utilizar o cloro da eletrólise. A primeira
ideia foi em tratar água. A partir daqui começamos a pesquisar como isso seria
feito e para quem seria feito”, conta a estudante.
Desafios
Para
conseguir desenvolver o protótipo, os estudantes do curso técnico em eletrônica
tiveram que investir em conhecimentos fora das disciplinas convencionais. “Não
foi nada fácil”, enfatiza Beatriz. “Tivemos que aprender química em pouco
tempo. Antes do projeto nunca havíamos entrado em um laboratório de química,
aprendemos muito”.
O
novo desafio envolveu também o estudo das condições atmosféricas. “Tivemos
dificuldade nos testes porque não chovia muito e precisávamos da água da chuva.
Outra dificuldade foi estar em São Paulo e fazer um projeto inteiramente
dedicado ao Nordeste brasileiro”, comenta.
Apesar
da premiação, o projeto ainda precisa ser testado no local para passar pelos
ajustes necessários à implantação. Segundo Beatriz, seria importante, por
exemplo, verificar a fixação do equipamento no solo. “E se as altas
temperaturas influenciariam muito no processo e, principalmente, como a
população se adaptaria”, enumera.
Mas
agora que deixaram o ensino médio e entraram no superior, os estudantes têm
menos tempo para dedicar ao projeto e tentar viabilizar o uso prático do
equipamento. “Como o projeto começou durante o ensino médio, ficávamos o dia
todo juntos. Agora cada um está em uma universidade diferente, atrás de
trabalho. Os encontros diminuíram”, conta Beatriz, que agora estuda na
Faculdade de Química na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Prêmio
em 2018
Para
a edição deste ano do Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, está aberta até 20 de
março a votação popular para selecionar o melhor trabalho brasileiro. Qualquer
pessoa pode votar, acessando a página do prêmio no
Brasil.
Os
representantes do Brasil serão conhecidos na manhã da próxima quarta-feira
(21), na Vila Cidadã do 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília.
Edição: Lidia
Neves
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